sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A USP e seus maconheiros

Esta semana, o Facebook foi inundado pelos brilhantes comentários a favor da prisão dos estudantes da USP que ocuparam a Reitoria da Universidade e foram presos pela Polícia Militar de SP.
Ouvi e li de tudo.
Que os estudantes deveriam ser processados, apanhar, levar "borracha" e outras pérolas. Inclusive de gente que eu respeito e conheço. Gente que individualmente é tranquila e democrática, mas que na hora do estouro da boiada fascista assume posições deploráveis.
Só para esclarecer, não sou nem fui a favor da tal ocupação. Nem eu, nem a maioria dos estudantes que decidiram não realizar este tipo de protesto na sua própria assembleia. Mas daí a se "empolgar" com a criminalização dos movimentos sociais vai uma larga distância.
A presença da Polícia Militar dentro do Campus da USP é apenas mais um capítulo da postura intransigente e antidemocrática que assola a Reitoria. Mas é também fruto da postura mesquinha, conservadora e provinciana que conduz governadores do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes há muitos anos.
O senso comum, que elegeu Ademar de Barros, criou o Janismo e o Malufismo continua entranhado na sociedade paulista.
Uma postura que aceita o autoritarismo, que espera que os governantes eleitos com bandeiras morais possam aplacar esta angústia e revolta que ninguém sabe direito de onde vem, que acredita que os problemas são os outros: baianos, negros, gays ou simplesmente os pobres.
É gritante para quem mora em outras regiões do país, como um estado construído à base de migrantes e imigrantes seja berço de tanta xenofobia.
Tenho conhecidos que nasceram em outros estados, ou são filhos de migrantes que gritam contra a invasão de SP por "nordestinos".
Esta intolerância vai contaminando tudo e todos. Ela justifica os ataques na Paulista, justifica a execução pela Polícia, justifica as mensagens carregadas de preconceito contra o ex-presidente Lula, e justifica também o desrespeito pela decisão soberana de uma assembleia estudantil.
É preciso retomar o prumo e a razão.
Não é aceitável que o debate sobre o consumo de drogas se concentre apenas nos usuários, isso foi tentado há anos e só alimentou os barões do tráfico.
Não é aceitável que não haja debate democrático dentro de um ambiente universitário, afinal de contas é o contraditório que alavanca nossa democracia.
Não é aceitável que a destruição de patrimônio público seja justificada pela ausência de diálogo. Protesto é outra coisa bem diferente.
Não é aceitável que a intolerância e o fascimso se entranhem na nossa sociedade, que a democracia seja relativizada e permitida apenas aos cidadãos de bem.
Acho que a exposição desta nuvem abjeta de preconceitos, exposta de forma exemplar pelo vídeo feito na reunião de socialites de SP, ao contrário do que parece, é uma virtude das redes sociais.
O sentimento existia antes da internet e continua existindo, só que agora é mais explícito e passível de responsabilização, como foi o caso da garota que tuitou "a morte aos nordestinos".
Se não fossem as redes, não haveria a exposição dos que destilam ódio e preconceito por trás de uma roupagem gentil e moderna.
Defendem o "novo", mas exalam o cheiro fétido do velho autoritarismo.

Em tempo: sou nascido e criado na cidade de São Paulo.

7 comentários:

  1. Parabéns Gustavo pelo equilíbrio e ponderações cautelosas. Os extremos realmente levam aos erros. Compartilho sua postagem... beijos

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  2. Você já foi melhor, nas suas colocações.

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  3. Rotular - seja quem for ou de que lado for - é prova cabal da incapacidade de se discutir. Resumir e rotular determinado grupo, ainda que a posição não seja simular à nossa é autorismo e preconceito. O texto é um alerta para não nos tornarmos burros, afinal, " A unanimidade é burra"

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  4. Muito bem Gustavo, precisamos de falas assim para pelo menos o ar antidemocrático não ficar tão carregado. Parábens e recomendei seu comentário para rede MNDH. Bjs.

    Rosiana - militante de direitos humanos

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  5. Gustavo, meu filhote, me parece que há um preconceito implícito no seu texto.
    De qualquer forma, vejo o preconceito contra os negros, gays, nordestinos, etc. mas não tenho certeza de que este preconceito é exclusividade de São Paulo. Vejo isso, no Rj, SC, RS, PR também. Talvez a intensidade mude de racista pra racista (e muda também o grupo atacado), mas idiotas existem em todos os estados da federação e em todos os lugares do mundo.
    A questão da USP é outra na minha opinião.

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