segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Proletarização do jornalismo

O intenso debate que se seguiu após a decisão do STF sobre o diploma de jornalista foi, na minha opinião, apaixonado e desfocado.
De um lado a FENAJ, que há algum tempo cometeu o erro estratégico de vincular a regulamentação da profissão à exigência do diploma e de outro, os mais diversos setores que reúnem desde os jornalistas "práticos" ou não-diplomados que conseguiram seus registros nos últimos anos até os donos da mídia.
Mais do que um episódio isolado, a queda do diploma seguiu um rito que tem haver com a intensificação do trabalho e também a proletarização do jornalismo.
Não me entenda mal, a proletarização não traz nenhuma referência negativa aos proletários.
Este termo serve mais para aclarar as condições de trabalho dos jornalistas, que envolvidos na batalha pelo diploma se distanciaram da sua realidade.
Não é a falta do diploma que irá achatar salários, intensificar e ampliar a carga horária de trabalho.
Isso já é a realidade.
O jornalista de hoje tem que cumprir uma jornada pesadíssima.
As empresas de comunicação reduziram as redações nos últimos anos e os repórteres triplicaram suas pautas.
Mas o mais grave é que, caso a matéria não seja adequada à visão do empregador, só resta ao jornalista reescreve-la ou rua.
Você pode pensar "mas isto sempre foi assim", mas é exatamente esta a gênese da crise vivida pelo jornalismo.
Como contar com o apoio dos jornalistas na luta pela democratização da comunicação, se eles só podem publicar o que seu editor permite?
Este fato, por si só explica o sucesso da internet, que permite a todos se expressarem.
Inclusive os jornalistas.
O debate sobre o diploma, embora tenha tomado corações e mentes nas redações e universidades, é secundário.
O fundamental foi deixado de lado por quase todos os debatedores, como regulamentar a profissão de jornalista, resguardando a liberdade de informar de acordo com a apuração feita pelo profissional.
Sem isso, debateremos quem entra ou não no Baile da Ilha Fiscal do jornalismo.

Um comentário:

  1. Tu deverias escrever mais, Gustavo... e nos brindar sempre com análises como a apresentada.

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