Em seu novo livro, "L’Explosion du journalisme. Des médias de masse à la masse des médias", o antigo diretor do Le Monde Diplomatique analisa a mudança profunda do que ele chama de “ecossistema midiático” e o fim inelutável de uma grande parte da imprensa escrita.
Os grandes grupos midiáticos constituídos nas décadas de 80 e 90 mostram-se ineficazes face à proliferação dos novos modos de difusão da informação. Os grandes jornais perdem leitores no papel, mas crescem na internet.
Bernard Gensane
Em "L'Explosion du journalisme. Des médias de masse à la masse des médias" Ramonet dedica várias páginas à natureza da informação na era da internet 2.0. Circulando à velocidade da luz, ela se inscreve em um processo dinâmico e torna-se um trabalho em curso jamais acabado. Em troca, dinossauros certamente em via de extinção, os grandes grupos midiáticos constituídos nas décadas de 80 e 90 mostram-se ineficazes face à proliferação dos novos modos de difusão da informação. Os grandes jornais perdem inexoravelmente leitores no papel, mas não param de ganhá-los na Web (43 milhões de internautas leem o New York Times).
120 jornais diários desapareceram nos Estados Unidos (25 mil empregos destruídos entre 2008 e 2010). A circulação da imprensa escrita cai cerca de 10% ao ano. Como o Christian Science Monitor, vários grandes órgãos de imprensa viram suas edições impressas afundarem. Terceiro maior grupo multimídia do mundo, a News Corporation (Rupert Murdoch) reconheceu perdas anuais superiores a 2,5 bilhões de dólares. O Financial Times, uma das vozes mais prestigiadas do capitalismo liberal no mundo, paga seus editores três dias por semana. Quando os sites dos grandes jornais passaram a ser pagos (como o Times), a visitação despencou (de 22 milhões para 200 mil). Libération ou Mediapart escolheram um modelo de pagamento parcial. Cabe registrar que se a imprensa da internet é, no momento pelo menos, quase gratuita, isso se deve ao fato de que ela é subvencionada pelos leitores da imprensa escrita.
Antes, os meios de comunicação vendiam informação. Agora, como a TF1 faz com a Coca Cola, vendem consumidores a seus anunciantes. Quando “Slate” (grupo do Washington Post) comenta um livro ou um DVD, links ligam o texto ao site de vendas da Amazon. Para cada venda efetuada, Slate recebe 6% do total. Pretender que os relatórios possam ser falsos seria uma prova de arcaísmo.
Houve um tempo em que os grandes jornalistas tinham por missão escrever análises muito bem argumentadas, ou ainda provar que Nixon utilizou “encanadores”. Hoje, eles preferem “fascinar o povo”, frequentando o reino das celebridades e autoridades e ficando o mais perto possível – até carnalmente – de homens e mulheres da política. O que não contribui para a democracia avançar. No final da cadeia, os usuários desses meios de comunicação, explica Ramonet, tornam-se produtores-consumidores e espectadores-atores.
A missão informacional é parasitada pela comunicação. Quando eu comunico, é para mim; quando eu informo, é para ti. A partir de que momento um jornalista de um grande grupo para de informar a fim de comunicar para o grupo que lhe retribui? Na França, como em outros países, uma boa parte da imprensa está concentrada nas mãos de oligarcas (Dassault, Arnault, Weill, Rotschild, Pougatchev). Ora, assinala o autor dando o exemplo dos Estados Unidos, “um quinto dos membros dos conselhos de administração das mil principais empresas estadunidenses estão igualmente na direção dos maiores grupos midiáticos. A comunicação tornou-se uma matéria-prima estratégica. As cifras dos negócios de sua indústria chegaram em 2010 a 3 bilhões de euros (15% do PIB mundial)”.
Os meios de comunicação não são mais um quarto poder encarregado de contrabalançar os outros três e de proteger o cidadão por meio do esclarecimento: “Os grandes meios de comunicação representam um real problema para a democracia. Eles não contribuem mais para ampliar o campo democrático, mas para restringi-lo e mesmo para pretender substituí-lo. Os grupos midiáticos se tornaram os cães de guarda da desordem econômica estabelecida. Esses grupos se tornaram os aparelhos ideológicos da globalização. Eles não se comportam mais como meios de comunicação mas sim como partidos políticos. Eles se ergueram à condição de oposição ideológica”. Eles têm o poder sem a responsabilidade. As falsificações não param de aumentar. A mais célebre, nos últimos anos, foi a das armas de destruição em massa no Iraque. Os jornalistas “embarcados” conscientemente cruzaram a linha.
Face essa deformação da missão jornalística, uma parte do mundo jornalístico reagiu encontrando uma nova via: jornalistas profissionais, experts, blogueiros participativos (Rue89, Huffington Post). Aí está, talvez, a verdade da informação coletiva na internet.
Ignacio Ramonet dedica, obviamente, um longo espaço a Wikileaks. Assange, explica, observou a morte da sociedade civil em escala mundial, a existência de um gigantesco aparato estatal de segurança oculto por parte dos Estados Unidos, o desastre dos meios de comunicação internacionais que, se não existissem, nos permitiriam nos mover melhor. A filosofia do Wikileaks é que, na democracia, todo segredo existe para ser revelado. Wikileaks conta com cerca de vinte membros permanentes e 800 colaboradores voluntários. Apesar da justiça britânica, da Paypal ou do Mastecard (que tentaram arruiná-lo), Assange não está só e sua marcha é irreversível. Com a divulgação de arquivos sobre a corrupção na Tunísia, Wikileaks ajudou a desencadear as mobilizações antes mesmo do suicídio de um jovem universitário recém-formado. Dito isso, cabe assinalar que a informação via internet não é suficiente para provocar o fim milagroso da exploração entre os humanos: duas em cada três pessoas não têm acesso à internet.
As redes sociais conheceram um desenvolvimento exponencial: 175 milhões de assinantes no Twitter, 650 milhões no Facebook. A cada mês, 970 milhões de visitantes únicos se conectam ao Google, 400 milhões à Wikipedia. A utilização de ferramentas como iPod, iTundes, os tablets (que, em breve, serão tão leves que poderão ser levados no bolso de nossas camisas) assinala o fim dos CDs, dos DVDs e o afundamento da indústria do disco. Com o meio se tornando mensagem, os jornais criam versões – para não dizer “produtos” – “Smartphone” ou “iPad”.
Alguns vão mais longe ainda na captação de consumidores. Com The Upshot, Yahoo! Criou um site de informações os temas tratados não são mais determinados por jornalistas, mas pelas estatísticas de busca dos internautas (na França, Wikio tem 3 milhões de visitantes mensais). Essa “massificação planetária do trabalho free-lancer” faz com que uma informação que não esteja na internet não exista ou não tenha importância alguma. Isso pode criar, diz Ramonet, um, “sentimento de insegurança informacionais”. O que explica, talvez, que só 27% dos franceses confiem nos meios de comunicação. Menos que os bancos que, no entanto, não lhe dão nenhum presente.
Ignacio Ramonet termina com uma nota de esperança: segundo ele, em um mundo cada vez mais complexo, em busca de referências, a imprensa escrita de qualidade, que permite a diminuição dos pontos de vista expressos honestamente, as análises aprofundadas, tem um belo futuro diante de si. Aceitemos como um bom presságio.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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