sexta-feira, 14 de junho de 2013

O divórcio com a realidade


As manifestações contra o preço das tarifas de transporte público se alastraram pelo país mobilizando  diversos setores da população. Em Porto Alegre, pude ver o apoio crescente que os jovens foram angariando. Aos poucos toda a população foi se solidarizando com a luta inicialmente juvenil e estudantil. A própria reação do prefeito Fortunati, de não recorrer da liminar concedida pela Justiça reduzindo a tarifa, foi um gesto político calculado para diminuir o desgaste de sua gestão.
Mas mais do que comentar as manifestações que estão se ampliando, à revelia das organizações sociais, quero trazer ao debate o comportamento da mídia na batalha campal travada em São paulo na noite desta quinta-feira.
A dessincronia entre os editores e a realidade foi brutal.
Acostumados a construir suas matérias dentro de um roteiro pré-determinado, TV's e jornais foram surpreendidos pela truculência e brutalidade da PM de SP. Imagino o desespero da equipe de comunicação do governo paulista ao assistir o desastre de relações públicas que foi a atuação da polícia.
Um desastre de proporções mundiais, ao ser reverberado pelos principais sites de notícias do mundo e condenado imediatamente pela Anistia Internacional.
Pois bem, apesar do script claro na redação da GloboNews destacando a "violência" dos manifestantes, a repórter presente na manifestação insistia no relato de que "havia recebido flores e beijos dos manifestantes".
Na Record, o apresentador exaltava a postura "firme" da polícia, enquanto um cinegrafista da emissora era agredido também pela PM.
O apresentador do programa policialesco da Band, construiu uma enquete ao vivo com a pergunta "Se você concorda com a realização de manifestações com baderna". Enquete vencida com folga, para imenso constrangimento do dito apresentador, pelo SIM.
Fora as covardes agressões aos jornalistas da Folha, Estadão, Terra e outros veículos.
Os profissionais da comunicação vivem a cada dia mais sobre o tacão da pressão nas redações, da concentração de tarefas, do fantasma dos "passaralhos".
E como se viu nesta quinta, sob a visão distorcida que as pautas pré-fabricadas lhes impõem.
Uma boa parte dos editores aposta cada vez mais no divórcio dos veículos com a realidade. 
Não importa que a que preço isso ocorra.
Não importa que a população perceba a gritante diferença entre as pautas e o que é visto nas ruas.
Foi assim na Diretas Já, foi assim nas primeiras manifestações do Fora Collor.
Também foi assim na hipertrofia editorial do julgamento do mensalão pelo STF.
Não importa que os profissionais sejam sacrificados nesta luta insana, só o que vale é o desejo dos donatários da grande mídia.

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